As autoridades paraguaias identificaram, nesta segunda-feira (8), os dois homens apontados como responsáveis pelo comboio de 19 veículos que atravessou 11 delegacias sem ser detido e transportava 88,9 toneladas de maconha. Segundo a Senad (Secretaria Nacional Antidrogas), os suspeitos são Benicio Silva, conhecido como Silva Hu, de 41 anos, e Carlos Miguel González Aguilera, de 29 anos, o Carlitos.
A dupla teria organizado a caravana interceptada na madrugada de quarta-feira (3), em Salto del Guairá, na fronteira com Mato Grosso do Sul.
Silva é policial aposentado e acumula um histórico de prisões por tráfico. Ele foi detido em 2009, voltou à prisão em 2022 após seis anos foragido e, em 2024, sobreviveu a um atentado em sua residência. Já Carlitos é irmão de Sergio González, 25 anos, morto em confronto com agentes da Senad e militares do Codi (Comando de Operações de Defesa Interna) durante a abordagem.
De acordo com o jornal paraguaio Última Hora, o delegado Abelino Bareiro, da unidade de Narcotráfico de Salto del Guairá, afirmou que as informações chegaram de forma extraoficial e que ainda não recebeu relatório escrito. Por isso, até o momento nenhuma ordem de prisão foi emitida. A Senad, porém, já trata os dois como os principais articuladores da megacarga que seria levada a um porto clandestino no rio Paraná e, posteriormente, ao Brasil.
A identificação dos suspeitos amplia a repercussão da Operação Umbral, considerada um dos maiores golpes ao tráfico no Paraguai. O comboio carregava quase 89 toneladas de maconha — quantidade confirmada após dois dias de pesagem — além de três fuzis, uma escopeta, coletes e roupas táticas. Cinco pessoas foram presas, incluindo uma mulher, enquanto outros integrantes fugiram, abandonando os veículos. Um suspeito morreu no confronto.
A apreensão provocou crise entre a Senad e a Polícia Nacional. O ministro paraguaio Jalil Rachid afirmou que o comboio passou livremente por 11 delegacias antes de ser interceptado e que documentos de um oficial do alto comando foram encontrados na área do confronto. O comissário Osvaldo Andino Gill alegou ter perdido a carteira durante a operação, mas a Senad reforça que nenhum policial nacional participou da ação.
Diante das suspeitas de facilitação, o comandante da Polícia Nacional, Carlos Benítez, afastou 40 agentes e abriu investigação interna. Em fevereiro, outro comboio do tráfico percorreu parte do departamento de Canindeyú sem ser detido, também resultando em afastamentos — mas o inquérito não avançou. A nova operação reacende a cobrança por responsabilização e mudanças no controle fronteiriço.
Histórico
Inicialmente, a Senad estimou que a carga teria cerca de 70 toneladas. Após dois dias de trabalho para transportar e pesar os fardos, o total chegou a quase 89 mil quilos. O destino seria o mercado brasileiro.
Um suspeito morreu no confronto com agentes e militares na região de Curuguaty, no departamento de Canindeyú, a cerca de 90 km de Paranhos (MS). Na sexta-feira (5), os presos foram levados para audiência no Ministério Público do Paraguai.
A apreensão intensificou a crise entre o comando da Senad e o Ministério do Interior, responsável pela Polícia Nacional. Além do trajeto livre por 11 delegacias, documentos pessoais do comissário Osvaldo Javier Andino Gill foram encontrados na área da operação, o que aumentou as desconfianças sobre facilitação. Apesar disso, a Senad reforçou que nenhum policial nacional participou da ação.
Em fevereiro, outro comboio de traficantes cruzou boa parte de Canindeyú e só foi interceptado pela Senad já na linha internacional. A Operação Umbral reacende as pressões por responsabilização e reforço no controle da fronteira com o Brasil.

